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Star é cancelada após três temporadas

Elenco agradeceu aos fãs nas redes sociais

Foto de Star
Camila Sousa/omelete/13.05.2019                                                                                                                                        

A Fox cancelou o drama musical Star, protagonizado por nomes como Queen Latifah, Jude Demorest, Ryan Destiny, Brittany O’Grady e Quincy Brown. O Deadline afirma que a decisão não é surpresa, já que a Fox também cancelou atrações como Máquina Mortífera e The Passage, para dar lugar a novas séries.

A trama segue a jornada de três cantoras talentosas que fogem de seus passados e tentam começar uma nova vida. Nas redes sociais, Jude Demorest e Ryan Destiny agradeceram o apoio dos fãs:

Jude Demorest

“Obrigada, obrigada, obrigada”.

Ryan Destiny

“Aos fãs, nós te amamos”.

Netflix adquire direitos de dois vencedores de Cannes, Girl e Happy as Lazzaro

Plataforma distribuirá longas na América do Norte e América Latina

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Netflix adquiriu os direitos de dois filmes vencedores do Festival de Cannes deste ano, Girl e Happy as Lazzaro. A plataforma terá direitos de distribuição dos dois longas na América do Norte e na América Latina.

Girl, do diretor francês Lukas Dhont, levou o prêmio Caméra d’Or, que honra estreia de diretores, e o Queer palm, prêmio LGBT de Cannes. O longa retrata a história de uma garota trans que persegue seu sonho de ser uma bailarina.

Happy as Lazzaro, filme italiano da diretora Alice Rohrwacher levou o prêmio de melhor roteiro, e conta a história de Lazzaro, um camponês tão bondoso que é entendido como um simplório, e seu encontro com Tancredi, um jovem nobre cheio de imaginação.

A Netflix ainda não revelou quando os filmes serão disponibilizados em streaming.

Festival de Cannes | Shoplifters ganha a Palma de Ouro; veja lista de vencedores

Encarado como favorito, Spike Lee recebeu o Grand Prix por BlackKklansman

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AOI Promotion/Divulgação
 - AOI Promotion/Divulgação

Um dos mais prolíficos realizadores do mundo na atualidade, com uma média de dois filmes ao ano, o japonês Hirokazu Kore-eda driblou todos os favoritos do 71° Festival de Cannes e fez um gol em prol do cinema asiático ao conquistar a Palma de Ouro por Shoplifters, uma ode aos novos conceitos da palavra “família”. Misto de comédia e drama, a produção acompanha as aventuras de um clã de trambiqueiros que adota uma menininha e muda sua rotina por isso. Cate Blanchett, atriz australiana que presidiu o júri, ressaltou a dimensão encantadora da abordagem de Kore-eda para a solidariedade. O Brasil não tinha filmes no páreo da Palma.

“Meus filmes, todos eles, são focados na condição humana, e este não é diferente”, disse Kore-eda ao Omelete dias antes, quando críticos europeus se rasgavam em elogios para sua dramaturgia. “Eu acabei sendo rotulado como diretor de folhetins porque passei anos tentando pensar as inquietações afetivas pelo prisma familiar, porém, mesmo nesse terreno do melodrama, eu abordo questões sociais. Esta nova trama é um estudo sobre a pobreza”.

Para escolher qual ganharia que prêmio, Cate comandou um time de jurados formados pela cantora e compositora Khadja Nin (Burundi), por duas atrizes (a francesa Léa Seydoux e a americana Kristen Stewart), pela diretora Ava Duverney (EUA), pelos também realizadores Denis Villeneuve (Canadá), Andrey Zvyagintsev (Rússia) e Robert Guédiguian (França) e pelo ator chinês Chang Chen. Com as bênçãos de todos, ela deu o Grand Prix, o prêmio mais importante depois da Palma, para o thriller americano BlackKklansman. Benicio Del Toro anunciou a vitória de Spike Lee, pela saga de um policial negro que se infiltra na Ku-Kux-Klan. “Tem ódio demais pelo mundo”, disse Spike.

Cate ainda inventou, com o consentimento de Cannes, uma Palma de Ouro especial para alguém que, segundo ela “faz uma surpresa a cada filme”, no caso, o diretor Jean-Luc Godard, de 87 anos, laureado por Le Livre d’Image. “O cinema deve saber valorizar a utonomia da imagem em relação ao som: diferentes sensações podem vira de cada uma dessas fontes, nos fazendo questionar o que vemos”, disse Godard ao Omelete, numa entrevista por facetime.

O primeiro prêmio a ser entregue foi o de Interpretação Feminina, que foi anunciado por Asia Argento, atriz e diretora italiana, com palavras polêmicas: “Em 1997, eu fui estuprada neste mesmo festival pelo produtor Harvey Weistein. Espero que daqui pra frente, não haja mais lugar para Weisteins assim”. A vencedora foi Samal Yesyamova, por “Ayka”, drama russo.

Depois de consagrar o desempenho de Samal, Cate anunciou os vencedores do prêmio de roteiro: foi empate entre a italiana Alice Rohrwacher, por Lazzaro Felice, e a trupe iraniana de 3 Faces, escrito por Nader Saeivar com o diretor Jafar Panahi. Este não pôde comparecer ao evento por estar detido no Irã em prisão domiciliar por desafiar ditames de seu governo. “Que bom a direção ter tido a coragem de selecionar o filme de Jafar apesar disso”, disse Nader.

Responsável por algumas das imagens mais belas deste festival, graças ao preto e branco de Cold War, o polonês Pawel Pawlokowski foi agraciado com a láurea de Melhor Direção desta Croisette. Ele foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 por Ida. “Tentei compartilhar com vocês em Cannes uma reflexão muito pessoal sobre os dilemas do amor, tentando fugir do meu pessimismo habitual”, disse Pawel.

Coube ao comediante Roberto Benigni (de A Vida é Bela) anunciar o prêmio de Melhor Ator com seu Francês macarrônico, convocando ao palco Marcello Fonte para receber a honraria de Canns por sua atuação em Dogman. Este faroeste moderno narra a cruzada de vingança de um tratador de cães. “Eu lutei para criar um personagem que representasse uma espécie de flor no meio do lodaçal”, disse Fonte.

Homenageado por Cannes com uma masterclass para falar sobre sua carreira como ator, Gary Oldman (ganhador do Oscar por O Destino de uma Nação) foi convocado para entregar o Prêmio Especial do Juri à libanesa Nadine Labaki, por Capharnaüm. Seu filme, sobre uma criança que processa seus pais por abandono e brutalidade, era um dos favoritos à Palma. “Não sei como resolver o problema das crianças do mundo, mas fiz este filme para que essa questão tão triste e urgente pudesse ser discutida a partir de uma narrativa que não abre mão da sensibilidade”, disse Nadine.

Na peleja pela Caméra d’Or, que celebra o melhor filme de estreia, o júri chefiado pela diretora suíça Ursula Meier escolheu um filme da seção Un Certain Regard, o drama belga Girl, sobre uma menina trans que sonha ser bailarina, mas enfrenta preconceito. O diretor Lukas Dhont recebeu ainda ao prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci). “Este é um filme sem gênero, para todos os gêneros”, disse Dhont.

Fora da briga pela Palma, o Brasil viveu um festival de muitas glórias: o longa Diamantino, feito em coprodução com Portugal, rendeu a Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt o Grand Prix da Semana da Crítica; a ficção Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, da paulista Reneé Messora e do lisboeta João Salaviza, ganhou o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard; e o curta O Órfão, de Carolina Markowicz, recebeu a Queer Palm, prêmio LGBT.

Assim que os prêmios todos foram entregues, Cannes foi conferir The Man Who Killed Don Quixote, a divertida releitura do diretor Terry Gilliam para o clássico de Miguel de Cervantes (1547-1616).

Lista de premiados:

  • Palma de Ouro: Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda
  • Palma de Ouro Especial: Jean-Luc Godard, por Le Livre d’Image
  • Grand Prix: BlackKklansman, por Spike Lee
  • Documentário: Samouni Road, de Stefano Savona
  • Prêmio Especial do Júri: Capharnaüm, de Nadine Labaki
  • Direção: Pawel Pawlikowski, por Cold War
  • Atriz: Samal Yesyamova, por Ayka
  • Ator: Marcello Fonte, por Dogman
  • Roteiro: Alice Rohrwacher, por Lazzaro Felice, empatado com Nader Saeivar e Jafar Panahi, por 3 Faces
  • Caméra d’Or (filme de estreia): Girl, de Lukas Dhont
  • Curta-metragem: All these creatures, com menção honrosa para On The Border
  • Prêmio da Crítica: Burning, de Lee Chang-Dong
  • Prêmio do Júri Ecumênico: Capharnaüm, com menção honrosa para BlackKklansman

Turquia encerra a competição do Festival de Cannes sob salva calorosa de aplausos com The Wild Pear Tree

Diretor Nuri Bilge Ceylan vira o favorito ao prêmio de roteiro com trama sobre acerto de contas em família

Existem cineastas cuja filmografia quase integral se fez conhecer mundialmente através do Festival de Cannes, o que os torna xodós da casa, como é o caso do turco Nuri Bilge Ceylan. Aos 59 anos, o ator e diretor teve seis filmes exibidos aqui em anos anteriores e chegou a ganhar a Palma de Ouro, em 2014, com Sono de Inverno.

Dada sua fidelidade ao evento, ele foi escalado para fechar a seleção competitiva deste ano com um doloroso conto moral que faz dele o favorito à láurea de melhor roteiro: The Wild Pear Tree. Sua sessão para a crítica terminou com uma das mais calorosas salvas de aplauso deste festival.

Na trama, o jovem recém-formado Sinan (Dogu Demirkol) volta para a casa dos pais, numa zona rural, a fim de escrever um romance e realizar seu sonho de ser escritor. Porém, ao regressar, ele se dá conta do quanto a figura de seu pai, Idris (Murat Cemcir), um professor em vias de se aposentar, é um fardo na sua vida e na de sua mãe (Bennu Yildirimlar, numa das muitas boas atuações femininas desta edição de Cannes).

Apesar de longuíssimo, o filme se mantém firme na tela pelo rigor dos enquadramentos de Ceylan e pela dimensão trágica dos diálogos.

A premiação será realizada neste sábado, pelo júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett. Capharnaüm, de Nadine Labaki, e BlackKklansman, de Spike Lee, são os favoritos.

Festival de Cannes | Capharnaüm, de Nadine Labaki, pode tirar o favoritismo de Spike Lee

Cineasta libanesa tem tudo para ser a segunda diretora a ganhar a Palma de Ouro em 71 anos do prêmio

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Nenhuma das sessões promovidas pelo 71º Festival de Cannes desde sua abertura, no dia 8 de maio, terminou com uma choradeira em massa tão grande quanto a que se viu nos minutos finais de Capharnaüm, da libanesa Nadine Labaki. Não por acaso, o favoritismo em torno da Palma de Ouro de 2018, antes concentrado sobre Spike Lee por BlackKklansman, agora está dividido entre ele a diretora de 44 anos.

Antes conhecida por cults como Caramelo (2007) e E Agora, Onde Vamos? (2012), ela pode ser a segunda mulher cineasta a receber a Palma em 71 anos de evento: a única que ganhou essa honraria foi Jane Campion, da Nova Zelândia, em 1993, por O Piano.

Seria uma vitória mais do que simbólica num ano em que o festival debateu dia a dia os temas do #MeToo, do empoderamento feminino e da desigualdade de gêneros. Porém, a Palma para Labaki não seria apenas uma vitória por simbolismo, mas também por mérito: Capharnaüm é uma experiência narrativa perturbadora, indo da fofura à tragédia na cola de uma criança.

“Falta organização e continuidade à indústria do cinema do Líbano, mas nos sobra a certeza de que vivemos cercados de problemas, de feiúras sociais no trato com nosso povo”, disse, quando passou pelo Brasil para lançar Rio, Eu Te Amo (2014), já na preparação de Caphanaüm.

Aplaudido de pé numa das sessões para a crítica, o filme é amparado numa montagem capaz de administrar traços sentimentais distintos em seus atos: começa como thriller de tribunal, vira folhetim, muda para a aventura, cai no trágico e dá uma guinada para uma reflexão social de tônus geololítico.

Na trama, um menino com 12 anos (ele não sabe), preso por esfaquear alguém (quem é? só saberemos lá pelo fim), leva seus pais (relapsos e violentos) à Justiça. O motivo: ele quer processo o casal por ter dado a vida a ele e não ter se esforçado em zelar por seu bem e amá-lo. O garoto, Zein, é vivido por uma força da natureza de cerca de 1 metro de altura chamado Zain Alrafeea. Abusado, corajoso, enraivecido, ele sai de casa, tenta a sorte em todas formas de trabalho e acaba tendo que cuidar de um bebê etíope. Juntos, eles arrancavam risos, suspiros e choro do público de Cannes. Em seu olhar para cortiços e conjuntos habitacionais, a fotografia, assinada por Christopher Aoun, evoca Cidade de Deus em uma lógica de favela movie.

Faltam três filmes da competição oficial, que serão exibidos nesta sexta-feira (18) em Cannes: Un Couteau Dans Le Coeur, de Yann Gonzalez (França); Ayka, de Sergey Dvortsevoy (Rússia); e Wild Pear Tree, de Nuri Bild Ceylan (Turquia). Nadine Labaki, Spike Lee, o italiano Matteo Garrone (com Dogman, exibido nesta quinta) e o russo Kirill Serebrennikov (do musical Leto) não saírão daqui sem prêmios.

Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos | Filme luso-brasileiro é o favorito da mostra Un Certain Regard de Cannes

Protesto em prol da demarcação das terras indígenas marcou a sessão

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Iniciada com um protesto nas escadarias do Palais des Festival em prol da demarcação das terras indígenas e do fim dos etnocídios, a sessão da coprodução luso-brasileira Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, na mostra Un Certain Regard do 71º Festival de Cannes, terminou com um desabafo de um veterano crítico francês: “Não há razão de um filme bonito como esse não estar concorrendo, sobretudo diante de tanta bobagem que foi indicada este ano por aqui”. Metros adiante, um resenhista espanhol disse o mesmo ao Omelete: “Em 30 anos de carreira, eu nunca vi uma abordagem da realidade dos índios tão íntima e tão poética”. O aplauso vigoroso no fim da exibição já era indício de algo positivo para este ensaio metafísico sobre o virtude e o fardo de tradições e rituais entre o povo Krahô, rodado pela paulista Renée Nader Messora e pelo lisboeta João Salaviza em terras do Tocantins, em película 16mm.

Estive lá em 2009, para trabalhar num filme sobre o registro de uma festa de fim de luto, ritual feito um ano depois de uma morte, e acabei me encantando por aquele universo”, disse Renée, antes da exibição, quando ela e seus colegas exibiram cartazes cobrando o fim do genocídio indígena e a proteção do espaço dessas populações. “A ideia de ‘Chuva…’ é ser um filme horizontal sobre as transformações de uma espécie, feito com os Krahô, mas como ficção”.

A partir de uma delicadíssima construção visual, pautada por uma aproximação suave entre a câmera e os corpos dos índios, Renée e Salaviza acompanham a luta do jovem Ihjãc (Henrique Ihjãc Krahô) para lidar com um ritual funeral que exige dele um entendimento da permanência e da finitude. É um filme filosófico, de ritmo lento, mas de uma beleza plástica arrebatadora, que abre uma cultura distante para as plateias de Cannes. É o longa de maior cacife entre os concorrentes da Un Certain Regard, que serão julgados por um júri presidido pelo ator Benicio Del Toro. Seu título internacional é The Dead and The Others. Vale lembrar que um outro longa nacional sobre índios, o documentário Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi, foi premiado com uma menção honrosa no Festival de Berlim.

Nesta quarta (16), em sua competição, Cannes recebeu o coreano Burning, de Lee Chang-dong, no qual um rapaz aceita cuidar do gato de uma amiga por quem se encanta. Um fetiche piromaníaco do personagem literalmente aquece o tom de mistério do novo filme do realizador de Poetry (2010). Na madrugada, a Croisette foi pra cama nos acordes de “Run To You” e “I’ll Always Love You”, do filme O Guarda-Costas (1992), que tem seus bastidores retratados no documentário Whitney, de Kevin Mcdonald (O Último Rei da Escócia), encarado aqui como sendo um concorrente ao Oscar nato. É um estudo sobre a carreira de Whitney Houston (1963-2012), como cantora e atriz, ressaltando os episódios mais trágicos de sua vida.

Na quinta, Cannes recebe um potencial risco para Spike Lee e seu BlackKklansman no que diz respeito ao favoritismo do cineasta americano na briga pela Palma de Ouro, com seu thriller sobre um policial negro infiltrado na Ku-Kux-Klan. Há quem diga que a libanesa Nadine Labaki tem tudo para ser a segunda mulher a ganhar uma Palma, com seu Capharnaüm. Antes dela, só a neozelandesa Jane Campion levou o prêmio, com O Piano, em 1993. O festival termina neste sábado, com a premiação e a projeção do novo Terry Gilliam: The Man Who Killed Don Quixote. O Brasil já ganhou uma homenagem significativa na Croisette este ano: o Grand Prix da Semana da Crítica, conquistada nesta quarta por Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, também em duo do cinema nacional com Portugal.

Festival de Cannes | Vincent Cassel elogia o Brasil, mas ressalta a violência

Ator está em O Grande Circo Místico

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Tem sangue francês em O Grande Circo Místico de Cacá Diegues, poética superprodução nacional exibida sábado (12) no Festival de Cannes: a porção mais colorida – e pop – disso vem de Vincent Cassel. Visto como vilão nas franquias Bourne e 11 Homens e um Segredo, ele vive um mágico mulherengo no longa-metragem que estreia no Brasil em setembro.

“A coisa mais bacana de filmar no Brasil, e já filmei com muito diretor brasileiro, é ter a sensação de ser o único gringo que vai pra lá para trabalhar. Em geral, as pessoas vão ao Brasil para curtir”, diz o galã francês. “Não sei dizer porque eu amo o país de vocês ou porque escolhi morar lá. Amor não se explica. Sim, o Brasil é lindo… sim, seu povo é caloroso, mas tem violência, não é um oásis de segurança. Mas eu gosto”.

Em O Grande Circo Místico, Cassel é um dos artistas de um picadeiro cheio de tragédias retratado ao longo de um século. O ator tem mais um filme de peso em Cannes: Le Monde Est à Toi, de Romain Gavras, no qual vive um gângster arrependido. “A França faz hoje cerca de 200 filmes por ano. Há muita diversidade”, orgulha-se o ator.

Na competição pela Palma de Ouro, o domingo (13) foi chacoalhado por um experimento do Irã: 3 Faces, de Jafar Panahi, que não pôde estar presente por estar sob prisão domiciliar por exigência do governo de seu país. Lá, ele tem fama de subversivo. Seu novo filme ataca o machismo nas tradições iranianas ao narrar os esforços do diretor e se uma amiga atriz para encontrar resquícios de uma menina que foi proibida de estudar Artes Cênicas por seu pai e pelo povo sexista de sua aldeia. A narrativa é áspera, mas tem uma precisão impecável.

Neste domingo (13), na Quinzena, Cannes viajou pela pobreza do universo rural americano em decadência de carona do drama Leave No Trace. Realizadora do seminal Inverno da Alma (2010), que revelou a atriz Jennifer Lawrence, Debra Granik dirige esta trama triste sobre isolamento, centrada na luta de dois eremitas, a adolescente Tom (Thomasin Harcourt Mckenzie) e seu pai (Ben Foster), para se adaptar a uma nova realidade, mais urbana, depois de anos vivendo num bosque.

Festival de Cannes | Exibida fora de concurso, comédia francesa conquista o evento

Gilles Lelouche dirige Le Grand Bain

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Campeão de bilheteria na Europa, seja fazendo humor (Os Infiéis), seja interpretando homens maus (A Conexão Francesa), Gilles Lelouche, ator de 45 anos famoso e querido em todos os segmentos da sociedade francesa, conseguiu desafiar a sisudez do Festival de Cannes. Mais conectado a dramas e tragédias do que a comédias, o evento se rendeu à força de uma chanchada dirigida pelo astro, que arrancou gargalhadas de cabo a rabo no Palais des Festivals.

Le Grand Bain (ou Sink or Swim em inglês) é o mais recente trabalho dele na direção de longas-metragens e traz um elenco de estrelas do cinema de seu país numa trama sobre um esquadrão de fracassados que tenta a sorte num curso de nado sincronizado só para homens. Mathieu Amalric (o vilão de 007 – Quantum of Solace) encabeça a equipe que reúne os atores-diretores Guillaume Canet (marido de Marion Cotillard) e (o belga) Benoît Poelvoorde em hilários papéis.

Com diálogos escritos por Lellouche, a trama brinca com a representação masculina (e com o sexismo) na França, colocando homens barrigudos e sem estima para tentar uma atividade física aquática, sob o comando de duas mulheres instrutoras: a alcoólatra Delphine (Virginie Efira) e a cadeirante Amanda (Leïla Bekhti). O filme entrou numa sessão de títulos hors-concours, a mesma que exibirá Han Solo: Uma História Star Wars, de Ron Howard, nesta terça (15). Mas a recepção popular de Le Grand Bain foi tão boa que os organizadores já se arrependem de não tê-lo colocado em concurso.

“O humor é uma ferramenta fina para se mostrar o que existe de errado naquilo em que nós nos acomodamos por preguiça ou medo. Fazer rir me ajuda a espantar a letargia”, disse Lellouche ao Omelete no Festival de San Sebastián, no fim de 2017, quando estava finalizando Le Grand Bain. “A França tem lugar para todo tipo de filme e a comédia é parte essencial dessa diversidade que cultivamos”.

O tom de comédia deve permanecer amanhã (14), só que numa linha mais autoral, entre os filmes na disputa pela Palma de Ouro com Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda, em cartaz no Brasil hoje com O Terceiro Assassinato. Seu novo trabalho (prolífico, ele faz até dois filmes por ano) dá voz a uma família de trambiqueiros profissionais. “Comecei a carreira fazendo documentários para a TV sobre o dia a dia de pessoas comuns. Isso alimenta o meu interesse em fazer, nas telas, crônicas de costumes”, disse Kore-eda ao Omelete também em San Sebastián.

Nesta segunda (14), a competição pela Palma de Ouro recebe seu concorrente mais esperado: o thriller BlackKklansman, de Spike Lee, sobre um policial que se infiltrou numa célula racista da Ku-Kux-Klan. Adam Driver integra o elenco, protagonizado por John David Washinton, o Ricky do seriado Ballers, da HBO. Aliás, a emissora está presente no evento com a ficção científica Fahrenheit 451, que rendeu uma ovação popular a Michael B. Jordan (o Killmonger de Pantera Negra) em sua chegada ao Palais des Festivals, confirmando a popularidade do astro. Porém, a releitura do livro de Ray Bradbury – adaptado antes por François Truffaut em 1966 – feita por Rami Bahrani desaponta pela falta de ambição narrativa ao criar um futuro distópico no qual bombeiros ateiam fogo em livros. Ação não falta ao telefilme, mas a dimensão filosófica dele é obtusa.

Ainda na segunda (14), na Quinzena dos Realizadores, a Croisette vai visitar a bandidagem do México acompanhando uma garota armada e mascarada em Cómprame Un Revólver, de Julio Hernández Cordón.

“O cinema nacional está vivendo um de seus melhores períodos na história”, diz Cacá Diegues em Cannes

Diretor fará a estreia de seu novo projeto, O Grande Circo Místico

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Rafael Dalo
 - Rafael Dalo

Sensualíssimo, com direito a cenas de sexo construídas plasticamente com uma beleza rara em nossas telas, O Grande Circo Místico, um dos filmes brasileiros mais esperados do ano, nasce para o mundo hoje (12) no Festival de Cannes, em uma sessão especial e fora de concurso, organizada em honra do histórico de cults de Carlos “Cacá” Diegues nas telas.

Inspirado pela obra poética de Jorge de Lima (1893-1953), o filme aposta na fantasia ao acompanhar uma trupe circense ao longo de cem anos, período no qual todos os artistas vão se renovando, menos o mestre de cerimônias, Celavi, vivido por Jesuíta Barbosa (Malasartes e o Duelo com a Morte). O Omelete conferiu o longa-metragem numa sessão para convidados, no Rio, na fase de finalização do projeto: o mais arriscado e visualmente potente da obra do cineasta desde Bye Bye, Brasil (1979), sua obra-prima. O roteiro é de George Moura, autor do atual sucesso das 22h da TV Globo, Onde Nascem os Fortes. A fotografia – o ponto alto do longa – é assinada por Gustavo Hadba, de Faroeste Caboclo (2013). A estreia desta superprodução nacional está prevista para setembro.

“Devo o clima mágico do Circo a Jorge de Lima, poeta que me inspirou desde a juventude”, diz o cineasta, que foi jurado na Croisette em 1981, 2010 e 2012, tendo concorrido à Palma três vezes, com o já citado Bye Bye Brasil, em 1980; com Quilombo, em 1984; e com Um Trem Para as Estrelas, em 1987. “A sessão de hoje vai ser dedicada a Nelson Pereira dos Santos (o diretor, famoso por cults como Rio 40 Graus, morreu no dia 21, aos 89 anos), como um dever meu de mente e do coração”.

Um dos destaques do elenco de O Grande Circo Místico é o astro francês Vincent Cassel, que vive um mágico mulherengo. A entrada dele no projeto é parte das conexões que Cacá estabeleceu com o cinema da Europa ao longo de seu histórico em Cannes.

“O primeiro Cannes a gente nunca esquece e o meu foi em 1964, com Ganga Zumba na Semana da Crítica, enquanto Vidas Secas, do Nelson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, estavam na competição oficial. Era o grande lançamento internacional do Cinema Novo, o movimento que fundou o cinema moderno no país. Era a primeira vez que eu fazia uma viagem internacional por causa do cinema: tinha 23 anos e fiz 24 lá, em Cannes”, conta Diegues, que completa 78 anos no próximo dia 19, data em que o festival chega ao fim. “O cinema nacional está vivendo um de seus melhores períodos na história e isso começa a ser reconhecido internacionalmente”.

Tem DNA francês e português na produção de O Grande Circo Místico. Aliás, toda a presença nacional em longas no festival foi feita a partir de coproduções. Uma delas, também com Portugal, Diamantino, da Semana da Crítica, teve o melhor boca a boca de sua sessão e uma das melhores de todo o evento. Os diretores Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt fizeram uma espécie de sátira onírica ao jogador Cristiano Ronaldo, narrando uma viagem de rotas alegóricas de um craque da bola. Seu humor ferino caiu no gosto do balneário. Há ainda um curta com sangue nosso, Órfão, da diretora Carolina Markowicz, na Quinzena dos Realizadores, onde Los Silencios fez um clube de fãs com seu mergulho nas águas do Amazonas, amparado na delicadeza de tom poético etnográfico de Beatriz Seigner na direção.

Festival de Cannes | Comparado a Cidade de Deus, longa argentino El Ángel choca o evento

Filme foca na violência e conflitos de ordem social

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Cannes adora a Argentina há tempos e sempre dá um jeitinho de badalar seus filmes (vide Relatos Selvagens) e cineastas (Lucrecia Martel é queridíssima aqui), trazendo em sua programação deste ano uma produção que pode dar aos hermanos o prêmio principal da mostra Un Certain Regard, paralela à briga pela Palma de Ouro: El Ángel.

Comparado a Cidade de Deus, por sua violência regada de adrenalina e conflitos de ordem social, o novo longa-metragem de Luis Ortega (de Caja Negra) revive fatos reais da História de seu país nos anos 1970. À época, durante um jugo ditatorial, um jovem de 17 anos chamado Carlitos Robledo ganhou fama em toda a América Latina depois de roubar dezenas de pessoas e matar (pelo menos) onze desafetos ou vítimas inocentes. Com sua carinha angelical, ele surpreendia a polícia ao esconder um lado monstruoso sob um aspecto de menino bom. Lorenzo Ferro interpreta o bandido. “Lorenzo foi escolhido não só por sua beleza natural, mas pela pulsão que dá ao papel”, disse o diretor em Cannes, onde a trilha sonora de El Ángel arrancou elogios.

Neste sábado (12), a mostra não competitiva Midnight projeta para Cannes o esperado Fahrenheit 451, da HBO, dirigido por Ramin Bahrani com base no romance de ficção científica de Ray Bradbury. No longa, Michael B. Jordan (o Killmonger de Pantera Negra) assume o papel de um agente do governo incumbido da tarefa de incendiar livros. Antes dele, haverá mais uma exibição de Ash Is The Purest White, do chinês Jia Zhang-ke. Com um misto de ação, drama romântico e fantasia, o longa deu ao evento sua personagem feminina mais forte, e mais antenada com o pleito por empoderamento das mulheres: Qiao, vivida de modo impecável por Zhao Tao. Namorada de um gângster, a quem dá ajuda em uma série de pequenos afazeres, ela vai ter sua vida virada do avesso como paga por esse amor ilegal, mas não vai desistir de seus sentimentos nem das certezas que a levam adiante. É o melhor trabalho de atriz até agora.

Embora só esteja programado para quarta-feira (16) que vem, o desenho animado Mirai of the Future, do Japão, anda mobilizando distribuidores do mundo todo em Cannes. É o trabalho mais recente do ás dos animês Mamoru Hosada, responsável pelo cult O Rapaz e o Monstro (2015). Esta produção acompanha as viagens no tempo de um garotinho capaz de saltar de passado em passado acompanhado por uma versão juvenil de sua mãe.