“O cinema nacional está vivendo um de seus melhores períodos na história”, diz Cacá Diegues em Cannes

Diretor fará a estreia de seu novo projeto, O Grande Circo Místico

 by:omelete
Rafael Dalo
 - Rafael Dalo

Sensualíssimo, com direito a cenas de sexo construídas plasticamente com uma beleza rara em nossas telas, O Grande Circo Místico, um dos filmes brasileiros mais esperados do ano, nasce para o mundo hoje (12) no Festival de Cannes, em uma sessão especial e fora de concurso, organizada em honra do histórico de cults de Carlos “Cacá” Diegues nas telas.

Inspirado pela obra poética de Jorge de Lima (1893-1953), o filme aposta na fantasia ao acompanhar uma trupe circense ao longo de cem anos, período no qual todos os artistas vão se renovando, menos o mestre de cerimônias, Celavi, vivido por Jesuíta Barbosa (Malasartes e o Duelo com a Morte). O Omelete conferiu o longa-metragem numa sessão para convidados, no Rio, na fase de finalização do projeto: o mais arriscado e visualmente potente da obra do cineasta desde Bye Bye, Brasil (1979), sua obra-prima. O roteiro é de George Moura, autor do atual sucesso das 22h da TV Globo, Onde Nascem os Fortes. A fotografia – o ponto alto do longa – é assinada por Gustavo Hadba, de Faroeste Caboclo (2013). A estreia desta superprodução nacional está prevista para setembro.

“Devo o clima mágico do Circo a Jorge de Lima, poeta que me inspirou desde a juventude”, diz o cineasta, que foi jurado na Croisette em 1981, 2010 e 2012, tendo concorrido à Palma três vezes, com o já citado Bye Bye Brasil, em 1980; com Quilombo, em 1984; e com Um Trem Para as Estrelas, em 1987. “A sessão de hoje vai ser dedicada a Nelson Pereira dos Santos (o diretor, famoso por cults como Rio 40 Graus, morreu no dia 21, aos 89 anos), como um dever meu de mente e do coração”.

Um dos destaques do elenco de O Grande Circo Místico é o astro francês Vincent Cassel, que vive um mágico mulherengo. A entrada dele no projeto é parte das conexões que Cacá estabeleceu com o cinema da Europa ao longo de seu histórico em Cannes.

“O primeiro Cannes a gente nunca esquece e o meu foi em 1964, com Ganga Zumba na Semana da Crítica, enquanto Vidas Secas, do Nelson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, estavam na competição oficial. Era o grande lançamento internacional do Cinema Novo, o movimento que fundou o cinema moderno no país. Era a primeira vez que eu fazia uma viagem internacional por causa do cinema: tinha 23 anos e fiz 24 lá, em Cannes”, conta Diegues, que completa 78 anos no próximo dia 19, data em que o festival chega ao fim. “O cinema nacional está vivendo um de seus melhores períodos na história e isso começa a ser reconhecido internacionalmente”.

Tem DNA francês e português na produção de O Grande Circo Místico. Aliás, toda a presença nacional em longas no festival foi feita a partir de coproduções. Uma delas, também com Portugal, Diamantino, da Semana da Crítica, teve o melhor boca a boca de sua sessão e uma das melhores de todo o evento. Os diretores Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt fizeram uma espécie de sátira onírica ao jogador Cristiano Ronaldo, narrando uma viagem de rotas alegóricas de um craque da bola. Seu humor ferino caiu no gosto do balneário. Há ainda um curta com sangue nosso, Órfão, da diretora Carolina Markowicz, na Quinzena dos Realizadores, onde Los Silencios fez um clube de fãs com seu mergulho nas águas do Amazonas, amparado na delicadeza de tom poético etnográfico de Beatriz Seigner na direção.